Memórias Perdidas: Uma carta de Chulluam para Elka-or
Perdido na fronteira dos sonhos encontra-se um mundo povoado por criaturas improváveis e entidades fabulosas, tão antigas quanto a imaginação do Homem. Um oceano de fantasia recortado por continentes onde a Humanidade vive por entre reinos, mitos e lendas, bestas e deuses. E algures nesse mundo, no topo de uma torre de cristal, assumo-me como um guardião que contempla as pequenas estórias que decorrem para lá da reclusão do meu exílio, onde anoto, escrevo e completo a Narração das Memórias Perdidas.
Para Elka-or, Mestre da Academia de Eldor
Prezado Mestre,
Passaram-se alguns dias desde que a expedição desembarcou no ponto onde a nossa vela poderia navegar sem perigo, a norte da terra dos clãs. A partir do momento em que contornamos o extremo norte da Espinha o rio Eldor estreitou-se, tornando-se num sério obstáculo à navegação. Acabamos aportar ao largo de uma curva suave do rio que permitiu o desembarque em segurança. Aliás, todos os barcos que não descarregam as mercadorias mais abaixo no posto de troca dos clãs acabam, eventualmente, por terem de parar algures por aqui.
Foi necessário tal artifício visto que os clãs recusam a passagem pelo seu território a todos os ocidentais. Segundo Kalim, o novo e desafortunado líder da nossa expedição, os clãs temem que mais algum grupo desapareça misteriosamente para lá das suas terras. Temem represálias dos reinos Ocidentais, e estão dispostos a tentar resolver o mistério pelos seus próprios meios. Não os censuro, suponho que não apreciariam ver os seus planaltos a tremerem sobre o pesado marchar dos exércitos ocidentais. E é o que acontecerá se os reis descobrirem que perderam o controlo das suas feitorias.
Amanhã iniciaremos a nossa caminhada em direcção à Marca, para alcançarmos a estrada das feitorias e tentarmos encontrar o pequeno contigente do Exército Prateado que avançou à nossa frente semanas antes. Com esta carta ficarei com apenas mais um pombo-correio o qual só enviarei ao chegar à primeira feitoria. Grande admiração sinto pela força destes mensageiros alados nas suas longas viagens. Um dia agradecerei pessoalmente ao Velho Enae-or pelo seu zelo no treino de animais tão maravilhosos!
Seu fiel discípulo,
Chulluam.
Um pequeno reparo para o leitor deste humilde guardião. A Marca fora forjada pela vontade dos reis ocidentais em assegurarem um caminho livre de perigos e banditagem. Até ao distante reino peninsular do norte, uma pequena ilha de civilização por entre o frio inóspito das nortadas, segue um longo caminho pejado dos mais vís perigos. As cinco feitorias dispôem-se ao longo de uma velha estrada que sobe em direção às terras geladas do nordeste, e oferece aconchego na alma e no corpo para os seus viajantes. A Marca também é conhecida como o Eixo que liga a segurança relativa das colinas dos clãs a sudeste, com as promessas no nordeste, de riquezas e mercadorias exóticas. Em cada feitoria existe um bravo corpo de soldados, oriundos das terras ocidentais. Homens bravos prontos a defender a Marca contra ladrões, oportunistas, bárbaros e umas estranhas e violentas criaturas que habitam na vastidão das terras desconhecidas a sul.
1 Comments:
mais um capítulo de um belo livro... continuo a gostar muuuito
Enviar um comentário
<< Home